O dia em que o aluno chumba o Professor.
Já vai longe o tempo das "reguadas" que nos deixavam as mãos a arder. O tempo em que quando um aluno era repreendido por um professor (o famoso puxão de orelhas), guardava esse facto como um segredo vergonhoso, receando ser novamente chamado ao castigo, na eventualidade de essa informação ir parar aos ouvidos dos nossos pais.
Houve tempos em que os professores eram mestres, pessoas respeitadas, educadores de homens, transmissores de conhecimento, portadores de tesouros intelectuais.
Alguém se lembra do tempo em que um aluno tinha de defender a sua aprovação?! Eu já não sou desse tempo mas ouvi dizer que um professor era uma referência na sociedade.
O meu primeiro ano de escola foi em 1984. Era a época das reguadas, uma herança que teimava em perdurar. Nessa altura aplicava-se a máxima "Quem tem cú tem medo". Passar de ano exigia algum esforço. Horas de estudo, assiduidade e respeito eram alguns dos ingredientes fundamentais para alcançar o sucesso.
Quando as coisas se tornavam mais difíceis e tropeçávamos numa matéria, os nossos pais entravam em acção. A táctica mais comum era o "incentivo em espécie", algo do género - "Se melhorares as notas compro-te uma bicicleta". Eram conquistas suadas e a alegria de ver o dever cumprido era indescritível e por isso mesmo tenho pena que o facilitismo de hoje em dia não proporcione aos putos momentos destes.
Chamam-lhes a "Geração PlayStation". Passam, pela escola como um comboio passa por um apeadeiro abandonado, sempre sem parar... Estão aprovados mesmo antes de aprender. É confuso?! Eu sei. É ridículo?! Também concordo. Onde é que isto nos vai levar?! Eu diria que nos leva direitinho para a cauda da Europa mas dizem que esse lugar já nos pertence há algum tempo. Como "do chão ninguém passa", nem damos pela diferença.
A ideia de chumbar os professores surgiu da seguinte conversa:
(Algures no Ministério da Educação)
- Então Valter, já fizeste alguma coisa hoje?
- Não, Maria.
- E ontem?
- Não.
- Este mês???
- Mhmhmhmh... que eu me lembre também não.
- Já pensaste em fazer qualquer coisa? Ser útil para a sociedade?
- Já mas depois desisti da ideia. Pensar cansa muito. Além disso estou a meio de uma conversa no messenger com uma funcionária do ministério da agricultura. Sou capaz de "sacar" a miúda para jantar logo à noite.
- Mas eu acho que podias justificar o teu ordenado milionário com pelo menos uma ideia, ou talvez um projecto... que dizes?!
- Ora bem,... uma ideia... deixa-me pensar... já sei!!! E se a malta baralhasse tudo no sistema educativo???
- Como assim?
- Por exemplo, era baril, tipo para variar, em vez de avaliarmos os alunos, avaliávamos os professores.
- É pá, ó Valter, isso é uma ideia de merda.
- Mas assim de repente não tenho mais nenhuma.
- De certeza?
- Sim.
- Nem puxando pela cabeça?
- Nada...
- Pronto. Vai ter de ser. Podes pelo menos tratar do projecto?
- Não me dava jeito nenhum. Pede a outro. Isto de ter ideias é cansativo...
- Mas ninguém me liga nenhuma. Ninguém faz o que eu digo. Estava a contar contigo.
- Contratamos umas miúdas para fazer o projecto, daquelas boazonas para depois poder falar com elas pelo messenger.
- Ok, que se lixe, não sou eu que pago...
(Alguns meses depois, a ministra fala aos portugueses.)
- É com prazer que anuncio uma reforma histórica, um marco para o nosso sistema educativo. Este dia será lembrado por todos como:
Quando as coisas se tornavam mais difíceis e tropeçávamos numa matéria, os nossos pais entravam em acção. A táctica mais comum era o "incentivo em espécie", algo do género - "Se melhorares as notas compro-te uma bicicleta". Eram conquistas suadas e a alegria de ver o dever cumprido era indescritível e por isso mesmo tenho pena que o facilitismo de hoje em dia não proporcione aos putos momentos destes.
Chamam-lhes a "Geração PlayStation". Passam, pela escola como um comboio passa por um apeadeiro abandonado, sempre sem parar... Estão aprovados mesmo antes de aprender. É confuso?! Eu sei. É ridículo?! Também concordo. Onde é que isto nos vai levar?! Eu diria que nos leva direitinho para a cauda da Europa mas dizem que esse lugar já nos pertence há algum tempo. Como "do chão ninguém passa", nem damos pela diferença.
A ideia de chumbar os professores surgiu da seguinte conversa:
(Algures no Ministério da Educação)
- Então Valter, já fizeste alguma coisa hoje?
- Não, Maria.
- E ontem?
- Não.
- Este mês???
- Mhmhmhmh... que eu me lembre também não.
- Já pensaste em fazer qualquer coisa? Ser útil para a sociedade?
- Já mas depois desisti da ideia. Pensar cansa muito. Além disso estou a meio de uma conversa no messenger com uma funcionária do ministério da agricultura. Sou capaz de "sacar" a miúda para jantar logo à noite.
- Mas eu acho que podias justificar o teu ordenado milionário com pelo menos uma ideia, ou talvez um projecto... que dizes?!
- Ora bem,... uma ideia... deixa-me pensar... já sei!!! E se a malta baralhasse tudo no sistema educativo???
- Como assim?
- Por exemplo, era baril, tipo para variar, em vez de avaliarmos os alunos, avaliávamos os professores.
- É pá, ó Valter, isso é uma ideia de merda.
- Mas assim de repente não tenho mais nenhuma.
- De certeza?
- Sim.
- Nem puxando pela cabeça?
- Nada...
- Pronto. Vai ter de ser. Podes pelo menos tratar do projecto?
- Não me dava jeito nenhum. Pede a outro. Isto de ter ideias é cansativo...
- Mas ninguém me liga nenhuma. Ninguém faz o que eu digo. Estava a contar contigo.
- Contratamos umas miúdas para fazer o projecto, daquelas boazonas para depois poder falar com elas pelo messenger.
- Ok, que se lixe, não sou eu que pago...
(Alguns meses depois, a ministra fala aos portugueses.)
- É com prazer que anuncio uma reforma histórica, um marco para o nosso sistema educativo. Este dia será lembrado por todos como:
"O Dia Em Que O Aluno Chumbou O Professor!"